Coluna Decorando com Zezinho Santos – Pra Lua
Há um asterisco de diferença: a de um, lançada em 2014, chama-se De * Pra Lua; a do outro, que chegou às livrarias ano passado, coloca por extenso a palavra monossilábica que não cabe soletrar aqui. Fala-se das autobiografias de Jorge Zalszupin e de Nelson Motta, duas figuras que encontram paralelo no fato de se considerarem pessoas de sorte na vida. E, entre os dois, ao menos Zalszupin — 1 de junho de 1922 | 17 de agosto de 2020 — de fato aparentava haver nascido com o derrière voltado para o nosso satélite natural. Em suas próprias palavras, associava sua trajetória de vida a uma “sucessão de milagres”.
Nascido em Varsóvia, aos 15 anos foi atraído por um livro apresentado na vitrine de uma livraria: impressas em dourado sobre uma capa de juta, as pequenas letras LC — Le Corbusier. Ao folhear aquele volume, fascinou-se irreversivelmente pela Arquitetura, que logo começaria a cursar em sua cidade natal. A sorte mudaria, contudo. Perdendo a mãe para um dos campos de concentração nazistas logo no início da Segunda Guerra, fugiu para a Romênia com o pai, onde concluiu os seus estudos.
Após formado, seguiu para a França, trabalhando na reconstrução de Dunquerque. Viveu por dois anos na vizinha Saint-Pol-sur-Mer — ou São Paulo sobre o mar. Chegou ao Brasil em 1949, no cais do Rio de Janeiro, com apenas uma motocicleta, frascos de perfume francês para vender e fazer algum dinheiro, o diploma de Arquiteto e uma revista. Mas foi em São Paulo que sua carreira deslanchou, trabalhando para Lucjan Korngold, igualmente um expatriado polaco.
Logo se firmou de maneira independente, projetando casas para a elite paulistana da época. E, para cada projeto residencial que desenvolvia, criava também todo o mobiliário, pois naqueles tempos não havia onde adquirir peças modernistas que fossem de seu gosto. A atividade paralela, que fez aflorar o designer no arquiteto, culminou na abertura da icônica L’Atelier, em 1959. Sediada no recém-inaugurado Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, a empresa de móveis chegou a ter duzentos funcionários e se tornou um marco na indústria moveleira brasileira, produzindo algumas das peças mais marcantes do design nacional. Uma sorte bem diversa daquela que vivenciou ao deixar a Europa. E, cá entre nós, Zalszupin e Motta são nomes emblemáticos na cultura brasileira. Mas o asterisco é sempre mais elegante.
Serviço
Instagram: @zezinhoeturibio
Site: www.santosesantosarquitetura.com.br
Fone: 81 3081 5900