Coluna Decorando com Zezinho Santos - O Bom, o Ruim e o Belo - Blog Ana Cláudia Thorpe
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Coluna Decorando com Zezinho Santos – O Bom, o Ruim e o Belo

A valorização do artesanato  —  peças decorativas ou utilitárias produzidas artesanalmente, na maioria das vezes em série, e como expressão de cultura popular  —  é uma coisa boa e deve,  sim, ser estimulada. Mas não é o simples fato de ser produzida artesanalmente que faz de uma peça algo com real valor artístico ou estético, como às vezes querem fazer parecer as tendências atuais em decoração. Não é porque é artesanato que uma peça é necessariamente relevante. Há o bom, o ruim e o belo. E há também o sublime, espaço rarefeito onde brilham alguns poucos e bons nomes da cultura popular brasileira.

É nessa estratosfera que transita Sil, de Alagoas, uma força criativa nascida e criada em meio à árdua vida das plantações de cana do Nordeste e que, pela qualidade de sua obra, eleva o que se conhece como artesanato à condição de Arte Popular. Nascida em Cajueiro mas criada na zona rural do município vizinho de Capela  —  daí Sil da Capela  —, a filha de cortadores de cana trabalhou nos canaviais até os vinte anos de idade. A falência da usina de açúcar para a qual trabalhava fez com que ela e o marido, André, procurassem sustento na sede do município. Anos difíceis, em que André trabalhava fazendo pequenos bicos e Sil ficava em casa cuidando das filhas.

A inquietação e o desejo por trabalhar logo a levaria, todavia, a procurar o Sebrae. Lá participou de várias oficinas, de bordado a crochê e tapeçaria. Até que surgiu a oportunidade de participar de uma oficina com o barro. Foi aí que ela encontrou pela primeira vez em sua vida o mestre João das Alagoas. Na primeira visita que fez ao ateliê do mestre já foi para ficar, fascinada com tudo o que viu. Viu, aprendeu e evoluiu. Ao longo dos anos Sil imprimiu um estilo próprio à sua obra. Sua experiência de vida e os costumes do seu povo são transmitidos às peças com um realismo e um esmero que impressiona, assim como a apresenta o Guia das Artes.

Todas apresentam expressões fortes: são homens e mulheres do povo, festas de casamento matuto, namorados passeando a cavalo, brincadeiras de criança e vivências da vida na roça retratadas com suavidade e uma impressionante riqueza de detalhes. A jaqueira, árvore abundante na zona da mata alagoana, transformou-se num elemento onipresente da sua obra e, como ela mesma afirma, sua marca registrada. Sil fala que veio do barro e para o barro voltará. As alturas as quais a sua obra a alça, contudo, são para poucos. São para o sublime.

 

Serviço

Instagram: @zezinhoeturibio
Site: www.santosesantosarquitetura.com.br
Fone: 81 3081 5900