Coluna Eu uso Óculos com Dra. Ana Catarina Delgado
É uma alteração na forma da córnea, que distorce a imagem e faz com que a pessoa não consiga enxergar bem, mesmo com os óculos. A córnea, que é a estrutura mais anterior do olho (assim como o vidro de um relógio), modifica seu formato, transformando-se em aspecto cônico. Esta nova forma, altera o direcionamento os raios de luz e impede que eles cheguem no ponto de melhor recepção da retina para que possamos enxergar com nitidez. É uma doença que acomete os dois olhos, mas de forma assimétrica: sempre há um olho mais prejudicado. Normalmente ocorre na adolescência, a partir dos 10 a 12 anos e vai progredindo enquanto o corpo humano estiver crescendo, ou seja, até aproximadamente os 21 anos.
– Quais os sintomas mais comuns?
São dificuldade de ver bem, mesmo com os óculos novos. A pessoa pode ter um grau de astigmatismo (muitas vezes associado a miopia) que não para de aumentar. Além disto, é frequente fotofobia, que é a dificuldade de ver e manter os olhos abertos em ambientes muito claros.
– Qual o tratamento mais indicado?
Como o óculos geralmente não confere boa visão ao paciente, a primeira linha do tratamento do ceratocone, que inclusive eu consigo tratar 90% dos meus pacientes é a lente de contato. Estas lentes não são lentes flexíveis, gelatinosas, de finalidade estética. São lentes específicas para o problema e, ano a ano a tecnologia destas lentes vem se progredindo para fornecer conforto, além de boa visão. Posso afirmar que atualmente temos melhorado muito a qualidade e eficácia destas lentes.
Quando a lente não resolve, podemos dispor de anéis intra-estromais que são idealizados para melhorar a curvatura da córnea, sem finalidade ótica diretamente, mas que ajudam na nova tentativa de óculos ou de lentes de contato.
E em casos mais extremos, podemos lançar mão do transplante de córnea. Hoje ha diversas técnicas cirúrgicas para o procedimento, tornando o ato cada vez mais previsível e exitoso. E a noticia boa é que a fila de transplantes de córnea no estado de Pernambuco está praticamente zerada, ou seja, a pessoa não precisa mais esperar anos por uma córnea doadora.
– Quais os riscos que o paciente corre com a evolução da doença?
Muitos perguntam se ha risco de cegueira e eu tranquilizo: em 25 anos de experiência nesta área, nunca vi um paciente sequer cegar definitivamente por ceratocone. Mas os riscos são de diminuir a qualidade de visão, pode ser limitante profissionalmente, mas não cegam.
Quando observamos que há progressão da doença, muitas vezes precisamos interferir através de uma tecnologia que imitou a odontologia, baseada na ideia de enrijecer a córnea, para que ela não modifique seu formato em forma de cone. Foi uma imitação do que se usa para enrijecer a resina dos dentistas, aplicamos a luz de cobalto (Ultravioleta tipo UVA) ativando as ligações covalentes do colágeno da córnea junto com a Riboflavina (vitamina B2), que aumenta a rigidez da córnea, diminuindo a progressão da ectasia. Estou falando do procedimento de Crosslink que é indicado em casos de ceratocone em franca evolução.
– Existe um público específico mais propenso a ter a doença?
Sim, pacientes alérgicos são mais susceptíveis a ter ceratocone e pessoas que tem antecedentes na família também tem maiores riscos de ter a doença. Normalmente são crianças alérgicas que coçam muito os olhos. Estudos mostram que 53% dos casos de ceratocone tinham história de atopia e 50% coçavam rigorosamente os olhos.
– Existem métodos para evitar a evolução da doença?
Sim, e talvez este seja o ponto mais importante desta conversa: devemos estar muito alertas para a COCEIRA DOS OLHOS! Está cientificamente comprovado que as pessoas que coçam os olhos tem grandes chances de desenvolver ceratocone.
Se eu puder deixar uma mensagem, ela vai ser, simplesmente: não deixe seu filho coçar os olhos ! Sei que é difícil, até brinco com meus pacientes: “sabe a melhor forma de coçar os olhos?” e respondo: “com o cotovelo!!!!” Nesta hora que der vontade de coçar, use agua gelada, ou colírios lubrificantes gelados diretamente nos olhos, seja agua da geladeira, agua com gelo, ou do bebedouro, nas escolas. O liquido gelado diminui a liberação de células da cascata de reações alérgicas que determinam o prurido ocular. Além disto, existem colírios específicos prescritos por oftalmologistas para diminuir a vontade de coçar. Então, para evitar tanto o aparecimento quanto a evolução da doença: não coçar os olhos é fundamental.
Serviço
Ana Catarina Delgado
CRM: 12109
Diretora Médica da Oftalmo Zona Sul
Diretora Médica do Banco de Olhos do Recife
Mestrado e Doutorado em Cirurgia
Instagram: @oftalmozonasul e @vivologoviajo
Contato: (81) 21020999