Coluna Temas da Vida com Djenane Mendonça – Evoé
O Recife e sua irmã Olinda já estão imersas nas sonoridades e ritmos do carnaval. Andei pelas ruas do Recife Antigo e me deparei com um encontro de Maracatus, baque solto, baque virado, saias rodando, alfaias cantando ancestralidade. Segui os tambores, a pele arrepiada e o coração emocionado. Respirei aquele entardecer na esquina da Rua do Bom Jesus com a Praça do Arsenal e eis que no Paço do Frevo, bem a frente, o Maestro Spok entoava em seu sax “Madeiras do Rosarinho”. Cantei a todo pulmão. O Recife converteu-se em lirismo: “Nós somos madeira que cupim não rói.”Que bom se o Carnaval fosse sempre assim: Lirismo, cultura e bela musicalidade!
Foto: Divulgação
Todavia, se é certo que estes dias carnavalescos podem ser vivenciados em alegria, nas danças, nas músicas e fantasias, na beleza da nossa cultura, é também verdade, que muitas pessoas aproveitam para fazer emergir seus monstros internos. Deixam cair as máscaras de civilidade, os freios e contrapesos morais e se permitem excessos que turvam a passarela da alegria.
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E, infelizmente, é também no Carnaval que muitas tragédias acontecem, algumas não chegam a ser noticiadas, mas a conta dos excessos bate na porta de quem deixou-se sorver nas sombras momescas. Após retirada a fantasia, o espelho reflete o vazio e angústia ganha mais espaço. E é então, que após o Carnaval, muitos problemas de ordem emocional e psicopatológicos recrudescem.
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E por que isso acontece? Talvez por termos dificuldade de acessar as nossas sombras, ou seja, olhar para a capela da nossa alma, para além das máscaras que usamos diariamente, que nos afogamos de bebidas e outras substâncias. Talvez porque ainda seja doloroso demais para nós acessar a fonte de nossos conflitos, enxergar a natureza das nossas inquietações emocionais, que nossos dragões encontram uma brecha para no meio da multidão, se revelar.
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Mas não precisa ser assim. Recife, numa manhã de sol, em pleno Carnaval, pode ser um lugar de celebração e beleza, de ancestralidade e poesia. Uma questão de escolha, uma questão de sintonia.
Évoe, minha gente. Vamos brincar, vamos cantar, mas em paz.
SERVIÇO
Djenane Mendonça
Psicóloga Clinica Analítica
@djenanemendoncapsi
Email:almapsicologiajunguiana@gmail.com
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