Explore a ousadia de Otronia, um projeto vinícola no coração da Patagônia
Em uma jornada além dos tradicionais destinos de enoturismo, o projeto Otronia emerge como uma joia vinícola na remota Patagônia, no extremo sul da Argentina. A odisséia começa com voos de São Paulo a Buenos Aires e, posteriormente, a Comodoro Rivadavia, seguidos de duas horas em uma robusta caminhonete 4 x 4, cortando estradas de brita e atalhos.
A vastidão das planícies da Patagônia profunda se revela entre Comodoro Rivadavia e Sarmiento, onde a visão é delimitada pela curvatura terrestre. Chubut, outrora dominada por latifúndios de italianos e ingleses, é agora moldada pela indústria petrolífera, sendo o berço econômico da família Bulgheroni, a mais rica da Argentina.
Alberto Bulgheroni, pioneiro na expansão de propriedades vitivinícolas internacionalmente, retorna à sua terra natal para criar Otronia, o vinho mais austral do mundo. No paralelo 45’33 Sul, este projeto enfrenta desafios únicos, onde o frio e o vento são os protagonistas.
O vento feroz, ultrapassando os 80 km/h, é mitigado por uma solução engenhosa: mais de meio milhão de árvores de plátano são plantadas para formar barreiras corta-vento. As videiras, protegidas por telas antigranizo e barreiras adicionais, resistem aos elementos. O projeto é uma dança entre o vento e o Lago Musters, cujas águas, originárias de um desbravador inglês, são essenciais para combater o frio.
As geadas frequentes, ocorrendo sete vezes ao ano, exigem uma estratégia única. Aspersores, acionados pela água do lago, são usados para congelar as vinhas, formando uma barreira térmica protetora. Esta batalha contra o frio é crucial, mas a gestão cuidadosa da água é vital, pois sua utilização intensiva pode esgotar os reservatórios necessários durante o ano.
O vento, aliado na proteção contra enfermidades nas vinhas, é um elemento essencial na agricultura ecológica de Otronia. Em uma estepe desértica, onde a água e o vento se unem, as videiras prosperam em condições únicas. Chardonnay, Pinot Noir, e outras variedades adornam os 50 hectares de vinhedos orgânicos, revelando solos lacustres e eólicos que dão um toque singular aos vinhos.
O Bosque Petrificado Sarmiento, nas proximidades, oferece um passeio imperdível, com árvores fossilizadas de 65 milhões de anos e trilhas que revelam fósseis de dinossauros. Otronia é mais do que um projeto vinícola, é uma saga de ousadia e resiliência, transformando a Patagônia profunda em um terroir único, onde a paixão pelo vinho enfrenta os elementos com maestria.