O suntuoso Palácio Quitandinha, em Petrópolis, se transforma no Centro Cultural Sesc Quitandinha
Inaugurado na década de 1940 para ser um hotel-cassino suntuoso, o Palácio Quitandinha, em Petrópolis, passa abrigar desde o último sábado (15) o Centro Cultural Sesc Quitandinha em seu térreo, com exposições e atividades culturais gratuitas para a população da cidade e turistas como a Exposição Um Oceano para Lavar as Mãos, que convida o público a pensar na diáspora negra provocada pela escravidão, e o objetivo dos artistas também é reler a história de Petrópolis, cidade que antes de receber imigrantes alemães já era território de resistência quilombola.
Em uma cidade que costuma ser resumida a seu passado imperial e imigração europeia, o Sesc programou uma exposição de longa duração que propõe uma revisão da história do país e de Petrópolis. O curador Marcelo Campos destaca que os artistas buscam reler a história de Petrópolis: “Isso, para nós, é fundamental, para ter um espaço com uma horizontalidade que nem sempre aconteceu e trazer artistas negros, negras e negres para esse palácio em que sempre estivemos, mas talvez ocupássemos áreas invisibilizadas. Isso faz com que a gente entenda cultura e arte como lugar de responsabilidade em que a gente não pode mais recuar”.
Idealizador do Museu de Memória Negra de Petrópolis e coordenador de Promoção da Igualdade Racial da cidade, Filipe Graciano assina a curadoria da exposição com Marcelo Campos e conta que o oceano é o lugar do trauma da diáspora, mas também é lugar em que se banha buscando a cura. Se conta uma história de que Petropólis começou com a chegada dos colonos europeus, só que, antes, há 166 anos em que Petrópolis se fez pela mão de obra e intelectualidade africana. Essa exposição pensa e reinvidica o que foi feito por essas mãos que fizeram não só Petropólis, mas também o Brasil.
Por isso, um dos artistas convidados é Ayrson Heráclito que propõe com seu trabalho um “sacudimento”, um ritual de limpeza registrado em foto e vídeo para exorcizar as energias de dois portos ligados ao tráfico de africanos escravizados, a Casa da Torre, em Salvador, e a Casa dos Escravos, na Ilha de Goré, no Senegal. “Trazer esse ritual para um palácio que, de certa forma, restringiu durante muito tempo a existência e a visibilidade da população negra em cargos de subserviência é muito importante, porque é uma forma de limpar”, destaca.
Ao longo do período de seis meses em que a exposição estará montada no Quitandinha, o palácio receberá também uma programação paralela que vai complementar a discussão proposta. O Café Concerto do Centro Cultural Sesc Quitandinha, com capacidade para 270 pessoas, vai sediar uma programação de música e de cinema, toda ela assinada por curadores negros. Presidente do Sesc, Antônio Florêncio diz que o objetivo é atrair cada vez mais visitantes ao Centro Cultural Sesc Quitandinha.
“O Quitandinha é uma joia não só do estado do Rio de Janeiro, mas do Brasil todo. Optamos por fazer um centro cultural para que tenha atividades diariamente e possa atrair cada vez mais visitantes”, afirma ele, que adianta que o palácio será central no Festival Sesc de Inverno deste ano. “O foco maior é o Quitandinha, não só em Petrópolis, mas em todo o festival de inverno, valorizando, mostrando e utilizando cada vez mais esse espaço.
No espaço há ainda um restaurante que funcionará das 10h às 17h no espaço do antigo Bar Central, local que recebeu os primeiros visitantes do palácio quando ele ainda estava em construção no início dos anos 1940. Mas, o projeto do Sesc ainda ganhará cinema, boliche e Mercado Gastronômico a partir de 2024.